Conhecendo Barcelona pela comida catalã

Mesmo morando bem no centro de Barcelona há quase um mês, ainda não conseguimos ver todos os pontos turísticos que estão há poucos minutos de casa. Pegar o metrô, até agora, só quando nossos passeios a pé ultrapassam os 5km e já está tarde. Mesmo no inverno Barcelona é uma delícia de ficar andando, cruzando bairros, entrando em ruazinhas e conhecendo lugares que você não esperava encontrar.

Procurando experiências diferentes nos vários bairros de Barcelona, encontramos o Devour Barcelona Food Tour, que nos ofereceu um tour gastronômico guiado por um dos bairros mais tradicionais da Catalunha, que apresenta a sua história através da comida. Existe combinação melhor do que comida e viagem?

O tour acontece no bairro de Gràcia, que fica há 15 minutos do centro de metrô. A promessa, basicamente, era: vamos contar a história do bairro e da Catalunha enquanto conhecemos lugares criados por famílias que vivem aqui há muitos anos, valorizando os negócios locais e comendo pelo menos 12 pratos tradicionais diferentes.

Não estamos acostumados a fazer tours com guias, e que experiência legal foi aprender a história de Gràcia com uma guia que sabia tudo lá! Também conversamos com os donos dos lugares que comemos e descobrimos um pouco das suas histórias e como cada um foi parar ali. Muito além de um tour gastronômico, foi um tour pela história da Catalunha contada pelos olhos dessas pessoas.

O bairro de Gràcia era uma pequena vila independente até 1897, quando foi incorporada em Barcelona. Ali, longe do centro turístico, você vai ouvir muito catalão e ver centenas de bandeiras da Catalunha. Gràcia era uma vila super orgulhosa de si e até hoje tem gente que diz que ali não é Barcelona, é Gràcia. É engraçado atravessar algumas ruas e, de repente, se sentir mesmo em outro lugar. Menos pessoas, menos espanhol, ruas mais espaçadas e muitas praças. E muita comida catalã!

Cada uma das paradas do tour ficava há mais ou menos 10 minutos de distância entre elas, que você não vai nem perceber enquanto ouve as histórias da guia e descobre um pouco do bairro.

Bom, agora chega de conversa e vamos falar do que importa: comidaaa!

[title subtitle=”Carrer del Torrent de L’Olla, 77″]Can Tosca[/title]

Nossa primeira parada foi um restaurante de teto baixo que só tinham senhores comendo seu almuerzo, a segunda refeição da manhã antes do almoço por aqui. O restaurante é extremamente tradicional. Tão tradicional que a dona vive na casa ao lado, as filhas vivem na casa da frente e várias gerações da família nasceram e cresceram ali, naquele mesmo bloco. Nas paredes, você vê fotos da família e de Barcelona que eles mesmos tiraram ao longo dos anos. O restaurante é tão pessoal que você se sente fuçando em um álbum de família.

De início, já tomamos cava, um primo do champagne feito com uma uva diferente, mais barata e uma das bebidas mais tradicionais por aqui. Para comer, bocadito de butifarra, um sanduíche com um embutido também bem tradicional. Para os vegetarianos, o recheio do bocadito era um omelete com alho poró delicioso.

[title subtitle=”Travessera de Gràcia, 186″]Mercat de l’Abaceria Central[/title]

Esse mercado é bem tradicional de Gràcia. Além de ter preços justos e boa variedade, você ainda vê vários velhinhos ali dentro sem comprar nada, só socializando com os vizinhos. Nós fomos direto na Selecció d’Olives | Conserves Glória, uma vendinha com várias combinações de azeitonas e outros ingredientes. E, como o principal produtor de azeite do mundo, a Espanha é muito orgulhosa das suas azeitonas. Em vários bares você vê as pessoas bebendo cerveja e comendo pequenas porções de azeitonas, e ela é usada de várias formas por aqui. Nessa barraquinha, inclusive, o dono é tão apaixonado pelas azeitonas que a cada dia ele cria combinações diferentes com elas para vender.

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Comemos azeitonas com bacalhau e com alcachofras. O bacalhau foi descoberto aqui por esses lados na época das grandes navegações, porque eles precisavam transportar peixe sem estragar. Quando encontraram o peixe ideal, colocaram esse tanto de sal que nós conhecemos para transporte. Agora temos freezers, mas a cultura acabou ficando.

Nossa segunda parada no mercado foi La Trobada del Gourmet, uma banca de queijos enorme. Eles selecionaram 3 queijos típicos da Catalunha e da Espanha para experimentarmos, dentre eles um queso manchego que ganhou vários prêmios. Esse tipo é bem tradicional por aqui, feito com leite de ovelha! Nós comemos até um queijo com marmelada, que eles fazem igual quando comemos goiabada com queijo. Delícia!

[title subtitle=”Travessera de Gràcia, 170″]Oli Sal[/title]

Fomos caminhando até a única loja de azeites do bairro, com uma coleção enorme vinda especialmente da Catalunha com diferentes sabores e texturas. Nós somos LOUCOS por azeite, usamos muito e em tudo, e amamos esse lugar. Muito.

Fomos até o fundo da loja em uma sala especial que eles reservam para degustação. A guia foi contando um pouco de cada um dos azeites, explicando o significado do Extra Virgem na Espanha (que, aliás, tem uma lei super rígida) enquanto nós degustávamos três tipos diferentes deles.
Quase saindo da loja, demos de cara com um azeite com limão e gengibre e levamos para casa. O veredicto sobre ele é: pode colocar azeite na vida?

[title subtitle=”Carrer de Sant Domenèc, 16″]l’Anxoveta[/title]

Esse aqui foi um dos lugares mais bacanas do tour. O l’Anxoveta é um restaurante criado pelo Carlos, que trabalhou por muitos anos como contador em agências de publicidade – e até lembrou de algumas do Brasil enquanto conversava com a gente. Quando a crise apertou, ele perdeu o emprego e decidiu abrir seu próprio restaurante.

Ali aprendemos a fazer o tradicional pan con tomate. Sabe como nós comemos pão ou torrada com manteiga? Aqui eles comem pão com tomate. Tem em to-dos os restaurantes, é barato e normalmente bem gostoso. Alguns fazem com pedaços de tomate, quase como uma bruschetta, mas colocamos a mão na massa pra aprender o tradicional pa amb tomàquet catalão. Quem sabe a gente não faz um post aqui com a receita, né? É bem fácil!

Depois, comemos a “bomba”, um croquete de batatas com carne, molho de patatas bravas e alioli. Para os vegetarianos, foi com uma porção de patatas bravas bem servida que estava maravilhosa. Pra quem não sabe, patatas bravas são tipo nossas batatas rústicas, mas cobertas com um molho de tomate um pouco picante e outro molho branquinho delicioso, o alioli.

Acho que esse foi um dos restaurantes que mais gostamos!

[title subtitle=”Carrer de les Guilleries, 10″]Pastisseria Principe[/title]

Já sentindo falta de um docinho, fomos para essa doceria árabe que está no bairro há dezenas de anos. Como a própria guia disse, a história do bairro não é feita só dos catalães, mas também de quem vive ali há muito tempo e criou sua história no bairro. Esse é o caso do Mostafa, dono do lugar e apaixonado por cada detalhe do que faz todos os dias. Todos os doces são feitos a mão e cada um parece mais gostoso que o outro. Doeu muito decidir só um para cada! Debbie não era muito chegada em doces árabes, mas quase chorou experimentando o de baklava de pistache e o de avelã com chocolate.
Esse é um dos lugares que, quando voltarmos para Gràcia, vamos dar uma passada com certeza!

[title subtitle=”Carrer Verdi, 141″]Bodega Ca’l Pep[/title]

Esse é um daqueles lugares que você nunca entraria se estivesse passando sozinho. No meio de uma rua residencial fica uma portinha que parece de um lugar tão tradicional que você não vai conseguir conversar nem com seu espanhol fluente, só com catalão. A bodega é mesmo beeem tradicional, mas eles são super amigáveis e simpáticos no pouco inglês e muito espanhol que falam. Lá, fomos beber Vermouth.

O Vermouth é quase uma “entidade” por aqui. Como o almoço daqui é tarde, lá pelas 14h, eles saem do trabalho, encontram seus vizinhos no bar do bairro e bebem um vermouth para abrir o apetite.

Essa bebida é um tipo de vinho misturado com flores e ervas aromáticas. Também vende no Brasil, mas a desse bar parecia bem mais leve e menos licorada. Antigamente, vermouth era super tradicional aqui na Catalunha, mas foi perdendo a força com os anos e virando uma “bebida de velho”. De uns tempos pra cá, começaram a reviver esse costume e estão se interessando por ela de novo.

Para combinar com o sabor, anchovas ou alcachofras avinagradas. A gente nem é fã de vinagre, mas essa combinação dos gostos ficou muito boa.

[title subtitle=”Carrer de Santa Agata, 18-20″]La Botigueta del Bon Menjar[/title]

Esse lugar é uma das várias portinhas espalhadas pela Catalunha que fazem quase um PF. Como cozinhar grãos (de bico, lentilha, arroz etc) é demorado, às vezes é preciso ficar de molho de um dia para o outro e nem sempre dá para planejar o almoço com antecedencia, essas lojas surgiram para facilitar a vida de quem cozinha em casa.

Eles começaram vendendo só grãos já cozidos para se adicionar na comida, mas avançaram para produzir as refeições completas, com frango, carne, usando os grãos já temperados etc. De entrada, tivemos um aperitivo com azeitona, molho romanesco (outra coisa super popular por aqui!), berinjela e pimentão. Fê comeu uma almôndega caseira com feijão e grão de bico e os vegetarianos um pratinho de espinafre com piñoli e grão de bico também. O grão de bico mais macio, que se desfazia na boca que já comemos. O lugar é bem pequeno, para você comer ali no balcão rapidinho ou levar para casa, mas super bonitinho e decorado.

[title subtitle=”Carrer Gran de Gràcia, 207″]Pastisseria Ideal[/title]

Nossa última parada foi esse café/confeitaria que existe desde 1919 e serve creme catalão, que lembra muito um Crème Brulée. Eles fizeram um versão mini para nosso tour experimentar enquanto bebíamos alguma coisa e descansávamos dos kilometros e de toda a comilança das últimas horas. O doce em tamanho pequeno só é feito para o tour, mas ele tem um toque cítrico tão gostosinho que não vamos ficar chateados se passarmos por lá e tivermos que comer o grande.

E foi isso! Depois de 4h, 9 lugares, alguns kilometros e muita, muita comida.

Achamos a experiência do tour bem legal, aprendemos UM MONTE de coisas e comemos várias coisas novas e diferentes, além de termos aprendido o significado de muita coisa da culinária catalã. Mesmo o preço sendo um pouco caro – 65 euros por pessoa –, achamos que vale bem a pena pela quantidade de comida que comemos e o quanto aprendemos pelo bairro de Gràcia e toda a Catalunha. Ah, e eles também tem tour em Madrid!

Se alguém aí ficar afim de fazer esse tour também, vão atrás do Devour Barcelona Food Tour. E boa comilança! :)