A primeira reação de quem descobre o estilo de vida das pessoas que trabalham pela internet viajando ao mesmo tempo, o tal do nômade digital, é de surpresa ou admiração. De longe, parece que não há nada de ruim nesse estilo de vida, aparentando ser a vida ideal pra todo mundo. Afinal, você trabalha dentro de casa, mora onde quiser, conhece outros países, vive culturas diferentes e faz seus próprios horários. O que mais poderia querer?
Mas, ao contrário de centenas de pessoas que falam sobre a vida de um nômade digital como a única alternativa possível para ser plenamente feliz, nós não acreditamos nisso. Sabemos que trabalhar viajando não é pra todo mundo – e está longe de ser a solução de todos os seus problemas.
Como vocês já devem saber, aqui no Pequenos Monstros sempre compartilhamos a nossa vida real com vocês. Não queremos vender uma história maravilhosa e inacreditável, simplesmente porque o blog é um reflexo real da nossa vida, e nossa vida não é perfeita. Mesmo que ela tenha momentos incríveis e que nosso cotidiano seja diferente da maioria, ela não é feita apenas de momentos maravilhosos. Como a vida de todo mundo!
Em alguns momentos, quando falamos sobre alguma coisa ruim do cotidiano da nossa vida de nômade digital, muita gente ainda nos aponta os cinco dedos da mão dizendo que “dariam tudo para ter esses problemas”. Como se nossa vida fosse tão sensacional que os problemas que vivemos devem ser só detalhes mínimos, que não valem nem a pena serem compartilhados. Mas se tem uma coisa que a gente aprendeu é que difícil é difícil. Não tem essa de ficar tentando comparar que vida é mais difícil, porque cada um sabe quais são seus próprios limites.
A vida de um nômade digital tem, sim, centenas de lados bons. Nós somos extremamente gratos ao universo por conseguirmos viver dessa forma há dois anos e batalhamos muito para garantir que continuaremos esse estilo de vida até decidirmos parar – se é que isso vai acontecer um dia. Mas é uma vida como qualquer outra. Com altos e baixos. Com momentos que queremos desistir. Com horas que dá vontade de largar tudo e voltar atrás. Com arrependimentos, problemas, preocupações, saudades e muito medo também.
Pensando sobre isso, separamos uma listinha com alguns dos problemas que passamos frequentemente e que é legal você ter em mente se virou um nômade recentemente ou têm planos de se tornar em breve.
[title subtitle=”porque nenhuma vida é perfeita”]Problemas de uma vida de nômade digital[/title]
Saudades
Nossa família está no Brasil, nossos amigos de vários anos também. Dá saudade de conversar para jogar conversa fora, rir de coisas que fizemos há anos atrás e de passar aqueles domingos de preguiça conversando o dia todo sobre a vida. Saudades das pessoas, das vidas que vivemos, das casas em que moramos, das ruas que passamos, da comida de um restaurante. Saudade é um sentimento recorrente na vida de um nômade digital, que surge quando você menos espera e dá aquele apertinho no coração. Às vezes, te faz até querer voltar no tempo – seja para uma cidade que você já passou, um tempo que mudou ou um lugar que não aproveitou como deveria.
Não pode dar errado
Morando do outro lado do mundo, a pressão para nada dar errado é enorme. Claro que podemos contar com nossa família, mas não é fácil como atravessar a cidade de carro e chegar na casa da sua mãe. Morar longe e ter que garantir que você vai conseguir se sustentar completamente, sem sequer saber qual será a cotação do dólar no fim do mês, é assustador demais. Mesmo tendo um ao outro, sempre morremos de medo das coisas darem errada. É o medo financeiro, é o medo de ficar doente, dos cachorros terem qualquer problema. Estamos sempre preocupados, pensando no futuro para garantir que iremos conseguir aproveitar ao máximo, sem desequilíbrios.
Não se criam raízes
Aquela sensação de pertencimento, de ter um lugar como lar, da cidade onde você se sente em casa é uma coisa que dificilmente acontece na vida de um nômade digital. Por mais que a gente fique morando alguns meses em uma cidade, é justamente na hora que estamos entendendo o ritmo do lugar, fazendo amigos, criando raízes, que temos que mudar de novo. Você acabou de criar uma rotina, descobriu o nome do cara que te atende naquele bar que sempre vai, desenhou toda sua vida na cidade e… vai mudar. Claro que é sempre uma escolha, uma escolha que fazemos nos forçando a continuar conhecendo outros lugares, mas sentimos muita falta de ter raízes, criarmos base com um lugar, amigos para sair todo final de semana sem ter que ficar pensando muito, nos aprofundar mais nas conversas do dia a dia com nossos amigos porque eles não são sempre novos e recentes. Essas coisas que nós nem valorizamos tanto quando temos sempre, mas fazem uma grande diferença na vida de quem muda o tempo todo.
Tudo começando do zero de novo
Da mesma forma que não criamos raízes, temos que começar do zero em toda cidade que visitamos. Descobrir qual supermercado é mais barato, aprender o básico da língua, como usar a máquina de lavar roupas, que cafés são legais para trabalhar, onde jogar o lixo no prédio, quais restaurantes são bons e baratos, como funciona a porta de entrada e a combinação das chaves. A lista é imensa e, por mais que seja legal ter a experiência de uma nova cidade, você ter que começar tudo do zero é cansativo depois da sua quinta vez.
Você quer se adaptar o mais rápido possível, tentar criar logo uma rotina e um equilíbrio no lugar que está vivendo, mas tem lá esse montão de coisas para descobrir de novo e que você já sabia fazer perfeitamente no país anterior. Tem dias que você só queria dar um pulo no supermercado pra comprar pipoca e vinho, mas não tem a mais puta ideia de como chama milho para pipoca, se ele existe lá e qual vinho é gostoso e tem um preço legal.
A frustração de não encontrar equilíbrio
Encontrar o equilíbrio entre trabalho e viagem é o maior desafio que nós encontramos até hoje nessa vida de nômade digital. Ao invés de ter sempre a mesma rotina, em qualquer lugar do mundo, isso acaba variando de acordo com a temperatura, a quantidade de trabalho, o local que você mora, as horas que os estabelecimentos abrem e fecha… uma série de fatores que te fazem repensar, toda vez, se você está mesmo balanceando a vida. Aí você se sente culpado por não conseguir conhecer a cidade. Ou culpado por não se dedicar tanto ao que deveria. Ou por não sair tanto com os cães. Ou por sair demais. Ou de menos. E isso vai te deixando ansioso, se questionando se está tomando as decisões certas, até a hora que você encontra um balanço legal e já é hora de ir embora novamente.
Eu costumo falar muito mais sobre o cotidiano de um nômade digital com a Horda, nosso grupo de emails aqui do blog – você pode clicar aqui para se inscrever gratuitamente :) – e é uma das coisas que mais recebemos elogios por lá: nós falamos sobre vida real. Não queremos vender a ideia de que viver viajando é sinônimo de uma vida perfeita – porque não é. Simples assim.
Todos os tipos de vida têm seu lado bom e seu lado ruim. O balanço entre o que é bom e o que é ruim precisa sempre resultar em um saldo positivo. Se não, alguma coisa está errada.
Saber exatamente como é a vida de alguém que trabalha enquanto viaja é uma das formas que qualquer um consegue decidir se esse estilo de vida é ou não é para si mesmo. Viajar trabalhando é muito legal? Sim. Mas não é pra todo mundo. Você precisa abrir mão de muitas coisas e sentir que vale a pena mesmo assim. E esse é o maior desafio quando você decide seguir uma vida diferente – pouca informação sobre a realidade de uma vida que poucas pessoas realmente vivem.
Foi justamente para ajudar a desmistificar esse estilo de vida que decidimos participar do Congresso Nômade esse ano – um congresso online com palestras de diferentes nômades digitais brasileiros contando sobre a vida REAL de um nômade, sem essa história de largar tudo pra viajar. Nossa palestra é sobre como transformar as habilidades que você tem hoje em um trabalho remoto, mas também tem gente falando sobre finanças, como encontrar freelas para ganhar em dólar, cotidiano de um nômade e vários outros pontos legais para quem quer mesmo levar sua vida para esse estilo de vida. Te interessa? Vem dar uma olhada aqui. 😉