Eu passei boa parte da minha vida com medo de rejeição. Não tendo lá a melhor auto estima do mundo, sempre que alguma coisa dava sinais de uma possível negativa – seja um projeto não aprovado, um crush que não me dava bola ou uma amiguinha que não queria sentar comigo no recreio – eu já ficava morrendo de medo da minha vida desmoronar. Mesmo que, na prática, nada disso seria o fim do mundo. Quase nunca é, né?
Só que quando você decide fazer uma coisa que ainda não é completamente popular por aí, como trabalhar pela internet e viajar o mundo levando dois vira latas com você, essa ideia de levar aquele “não” horroroso precisa mudar. Obrigatoriamente. Porque, se não, você não vai fazer nada que fuja um passinho do padrão que todo mundo tem na vida – e, na boa, acho que você não está aqui pra copiar o modelo de vida de todas as outras milhões de pessoas nesse mundo.
Há quatro anos, quando eu decidi fazer o que faço hoje, cansei de ouvir gente falando que seria impossível. Me dizendo não. Ouvi de amigos que era absurdo. Da família que eu tinha enlouquecido. Do veterinário que era impossível. Ouvi não de companhias aéreas. Ouvi não até de papéis que falavam sobre a burocracia e como era extremamente-quase-impossível. Ouvi, agradeci e continuei procurando alternativas. Passei meses procurando meu próximo “não” até esbarrar naquele “sim”.
Três anos depois, escrevo esse post enquanto eu e o Fê trabalhamos em um café em Chiang Mai, na Tailândia, com o Luca dormindo no meu pé e a Lisa fuçando na grama, sem coleira, logo ali do lado.
Hoje eu resolvi escrever sobre a importância de levar vários “nãos” na vida por um motivo em especial: desde ontem de manhã nosso principal objetivo aqui em Chiang Mai era encontrar um lugar para morar pelo próximo mês. Tentamos fazer isso com antecedência, pela internet, mas encontramos poucos lugares que tivessem o combo disponibilidade + cachorros aceitos + localização legal. Aí fizemos o que muita gente faz por aqui: reservamos um quarto privado em um hostel, passamos uma semana lá e ontem, faltando um dia para nossa hospedagem terminar, depois de uma semana trabalhando feito loucos, a água bateu na bunda e fomos finalmente procurar onde morar pelo mês. Só que em alta temporada e com dois cachorros.
Nessa brincadeira, acho que levamos pelo menos umas 50 respostas negativas. Chutando baixo.
“Não temos quarto disponível”
“Não temos datas para o mês inteiro”
“Não aceitamos cachorros”
“Não alugamos por apenas um mês”
Em algum momento paramos para perguntar em um hostel. Já batendo o desespero, passar um mês morando em um quarto de hostel com dois cachorros parecia uma opção quase interessante. Com certeza não deixariam, mas não custava perguntar, né? Recebemos mais um não, mas o moço que trabalhava lá – e gostava de animais – foi fazer carinhos nos cães e comentou que na rua da frente poderia ter alguma casa pra alugar. Lá fomos nós. E nada. Continuamos andando por lá e caímos em uma ruazinha que passamos no dia anterior – na frente de uma casa/hotel que não tinha ninguém antes, mas agora tinha alguém logo na porta. Ela ligou para a dona, a moça chegou, viu os cães, fez carinho na Lisa e como mágica topou nos hospedar pelo mês todo.
Depois de 2 dias, 12km andados, perguntando em todas as hospedagens que apareciam na nossa frente e recebendo sei lá quantas respostas negativas, tudo que precisou foi uma, umazinha só, APENAS ESSA PESSOA nos dizer sim. E foi mais do que suficiente para agora estarmos aqui, ó:
Deu pra entender onde eu quero chegar?
Eu já sabia na minha adolescência e aposto que você também já sabe que uma rejeição dói muito mais no nosso próprio ego do que muda o curso da nossa vida. E que é parte da vida, acontece muito, vai acontecer sempre. Só que é difícil demais colocar na nossa cabeça que cada não que você recebe te deixa mais próximo do sim.
Com o tempo eu coloquei na minha cabeça uma coisa que levo como meu maior lema da vida – e da luta contra a minha timidez: o não você já tem. Sem tentar, a resposta sempre será não. Costumamos ter tanto medo de receber uma negativa que nem cogitamos a possibilidade dela ser diferente. E lá está o não – mesmo que você nunca ouça.
As coisas começaram mesmo a mudar quando eu entendi que o não, aquela palavrinha que tinha tanto medo de receber, está dentro de todas as oportunidades que eu quero viver. Se eu não me abrir para a possibilidade de receber um não de verdade, daqueles de boca cheia, em alto e bom som, eu também não abro a possibilidade de receber um sim.
Desde que lançamos o #AgarreSeuSonho, o primeiro ebook do blog, batemos nessa tecla de que “o não eu já tenho” quase todos os dias. E cada vez mais a gente vê o quanto isso é verdade na prática. É com essa mentalidade que a gente se motiva a continuar tentando mesmo depois do primeiro, do décimo, do centésimo não. Foi com essa mentalidade que chegamos até aqui hoje. Porque cada não me deixa mais próxima de um sim. E é desse sim que vou correr atrás. :)