Há exatamente uma semana saímos do inverno de Berlim para passar alguns meses na Tailândia. Depois de todo o processo de mudança, finalmente aterrissamos em Bangkok, nossa casa por duas semanas. O plano é passarmos três meses e meio entre Bangkok, Chiang Mai e conhecendo outros lugares de todo o país, viajando de trem com os cachorros.
Viajar para um lugar super diferente é legal porque você consegue entender que não são todas as pessoas do mundo que têm os mesmos hábitos que você. É divertido, é exótico e é tranquilo, porque é por um período de tempo bem curto – que você passa boa parte em lugares com infra estrutura pensada para turistas. Como viemos morar aqui, mesmo que temporariamente, já começamos a prestar atenção em coisas mais cotidianas também. Estamos vivendo aqui como já vivemos em São Paulo, Berlim, Budapeste, Lisboa e tantos outros lugares. Vamos ao mercado, temos rotina de trabalho – mesmo que em casa –, passeamos com os cachorros, cozinhamos, fazemos exercícios e tentamos manter, na medida do possível, os hábitos que costumamos levar para todos os lados do mundo.
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Só que essa é a nossa primeira vez em um país asiático. Nossa primeira vez que a maioria ao nosso redor não é exatamente como nós. Primeira vez na vida que é absolutamente impossível a gente se misturar e se passar por locais. Não conseguimos nem pronunciar direito os sons que eles fazem quando agradecem. Não temos a mesma forma de comer. Em vários aspectos nós somos absolutamente diferentes.
Ainda dentro do aeroporto, enquanto eu esperava o Fê comprar nossos chips de celular, uma moça parou com o braço dela grudado no meu. Literalmente encostado nele, do cotovelo ao ombro. O aeroporto não estava vazio, mas não era a Linha Vermelha no horário de pico. Detalhe: eu estava com uma cachorra no colo. Ainda assim, ela achou ali suficientemente confortável e foi onde ficou, enquanto mandava mensagens pelo celular distraída – eu acho que ela nem viu a cachorra no meu colo, mesmo que estivesse quase no colo dela também. Coisa de países muito populosos, eu acho.
Saindo do aeroporto, aquele mar de pessoas com olhos puxados de todos os lugares do mundo. E eu, o Fê, a Lisa e o Luca. De vez em quando passava um ocidental e silenciosamente a gente se cumprimentava com o olhar, como quem cumprimenta o vizinho. Aquela conversa sem falas de “Tô aqui também, viu?” quase cúmplices. Quanto menos turístico é o lugar, mais cúmplices são esses olhares. Nas barraquinhas de comida ao lado de onde pegamos um barco-ônibus, então, só faltou um abraço. Dessa vez nós somos a minoria – o que é uma sensação que você pode demorar para acostumar, especialmente sendo branco, hetero, cis, classe média e o pacote-privilégio todo.
Uma ida ao mercado também é uma caça aos nossos costumes. Ainda não entendemos exatamente como a dieta do tailandês funciona, mas você encontra três opções de legumes e quarenta e sete frutas de todas as cores possíveis. Sete tipos de maçã, três tipos de banana, pitaia e água de coco a rodo. Demoramos meia hora para encontrar sal no mercado. Acho que nem eles procuram, já que a comida é quase sempre meio doce. Antes das 9 da manhã, da janela de casa, vemos vários tailandeses comprando todos os tipos de frituras nas barraquinhas da nossa rua – peixes inteiros, bolinhas fritas de peixe, frango e porco, tudo devidamente colocado dentro de um saquinho de plástico com molho doce/picante por cima e servidos com um palito no lugar de garfo. Aliás, até agora não comemos usando faca aqui. O garfo vem sempre acompanhado da colher. Mesmo com aquele pedação de frango.
Andando alguns metros da nossa casa chegamos em uma avenida muito, muito movimentada. Olha que eu venho de São Paulo, tá? Quatro faixas estreitas, trocentos carros correndo, bilhões de motos e tuk tuks, mas nada que impeça que os carros simplesmente manobrem no meio da rua, travem três faixas, subam na calçada, passem no sinal vermelho e saiam para o outro lado. Tranquilo.
Mesmo nessa zona, quando você para pra prestar atenção nas pessoas, elas estão tranquilamente encontrando paz em meio ao caos. Parece que todo mundo medita muito nessa vida.
• A mulher sentada na caçamba do carro – que também é uma barraca de frutas – lendo um jornal tranquilamente enquanto o motorista buzina sem parar pra passar no cruzamento.
• As garotas que pegam moto taxi, sentam de ladinho na moto, vão tomando seu bubble tea com uma mão enquanto mexem no celular com a outra. E nem se importam que o motoqueiro está se enfiando no meio dos carros e ônibus que vivem se fechando por Bangkok, desafiando qualquer lei de que dois corpos não ocupam o mesmo espaço.
• Os grupos de adolescentes que andam pelas ruas sem calçada – a maioria delas por aqui – tranquilamente, conversando e rindo, sem medo de serem levadas pelo caminhão que passa 30cm dos braços delas.
É tanta coisa prendendo nossa atenção o tempo todo que é até difícil separar as que me marcaram mais nessa primeira semana. A Ásia é um mundo completamente novo pra mim e ainda fico fascinada de olhar ao meu redor e ver placas que eu não entendo nem o alfabeto, ouvir línguas que eu não sei de onde vieram, centenas de adolescentes se matando de estudar em qualquer lugar, monges andando pelas ruas, pratos de comida que eu mal sei do que são feitos e tantas coisas que ainda fazem meu cérebro travar por alguns segundos.
E essa é uma sensação incrível. Todo dia aprendemos um livro de coisas novas. Dequando usar o sinal de cabeça a como se falar Brasil em tailandês (Básiu!), passando pelo nome do prato mais comido no estado ao lado. Aprendemos tanto que, nos dias que ficamos muito tempo longe de casa até chegamos com aquela canseira mental que só uma outra cultura pode oferecer.
São muitas coisas novas, muitas coisas diferentes e, surpreendentemente, também muitas coisas parecidas com os nossos hábitos do Brasil. Coisas que eu não vi em nenhum país além do nosso, mas que estou vendo por aqui também. Só que isso é assunto pra outro post, né?
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