Essa vida de trabalhar enquanto se viaja o mundo ainda é uma experiência muito nova. Tanto pra gente, que estamos há só 3 anos fazendo isso, como para a maioria das pessoas que só ficam de fora observando a vida de um nômade digital, lendo o que sites de notícias postam e histórias de pessoas com vidas parecidas com a nossa.
Ainda são poucos nômades que falam sobre a realidade de se trabalhar viajando online – porque até nós estamos aprendendo, né? – então é normal vermos várias ideias erradas sobre esse estilo de vida que surgem por pura falta de informação.
No começo da nossa trajetória isso me deixava meio puta, como se fosse óbvio que as notícias não diziam as coisas como elas realmente são, mas hoje eu entendo que qualquer coisa pouco-popular vai ser rodeada de clichês e achismos. E é pra isso que a gente tá sempre por aqui, né? Pra mostrar a realidade mesmo, sem frufruzinho. :P (Inclusive recentemente criamos o Escritório Remoto, nossa nova série de vídeos no Youtube para desmistificar o nomadismo)
Hoje eu selecionei alguns mitos que sempre ouvimos sobre trabalhar viajando pra explicar mais ou menos como é a nossa realidade. Vivendo há 3 anos dessa forma, conversando com um monte de outros nômades e sempre modificando nosso dia a dia – seja por causa do lugar que estamos ou pelo que é melhor para nossa produtividade – aqui vão algumas coisas que são bem diferentes na teoria e na prática.
Vamos acabar com essas bizarrices que a gente vê por aí, né?
Nômades são ricos (ou fazem muito dinheiro)
Um dos maiores erros que a gente sempre ouve – especialmente de pessoas que nunca ouviram falar da gente ou leram o blog – é que nós somos ricos e que todo mundo que trabalha enquanto viaja também. Quase na mesma proporção, também ouvimos muito sobre como nômades fazem muito, muito dinheiro e vivem uma vida incrível de cinema.
Isso costuma estar associado a duas coisas diferentes: ou todos os nômades na verdade não trabalham e nasceram milionários (#iwish) ou que eles só conseguem viver essa vida porque fazem muito, muito dinheiro.
Na verdade os dois podem ser verdade. Mas nenhum dos dois é a realidade da maioria dos nômades digitais. Como já falei aqui no blog, viajar é uma questão de prioridades, e é exatamente a mesma coisa que acontece com a vida de um nômade. Hoje em dia, a coisa mais valiosa que eu tenho é o meu notebook. Não tenho um carro, conto nos dedos de uma mão meus pares de sapato, não tenho um closet, não tenho uma casa, mas tenho alguns equipamentos relativamente bons que são essenciais para o meu trabalho. Esses são meus bens. Com o resto do dinheiro eu pago meu aluguel – cada hora em um lugar do mundo, quando dá tudo certo guardo um pouquinho. E é isso.
A maioria dos profissionais e nômades que eu conheço hoje ganham um valor ok, que às vezes não seria suficiente para viver confortavelmente em São Paulo, por exemplo. Mas dá pra viver tranquilamente na Tailândia. Ou na Polônia. Ou em Berlim. É uma forma diferente de olhar para o dinheiro e não pensar no que você pode comprar – porque isso só te segura ainda mais para ir para outros lugares – e sim procurar sempre onde ele vale mais e como fazer ele funcionar melhor para você.
Nômade só está viajando o tempo todo
Esse pode até ser um mea-culpa de vez em quando, porque dificilmente posto fotos no nosso Instagram ou faço Snapchat quando estamos trabalhando vários dias seguidos na semana. Porque é chato, né? Quando estamos em uma cidade diferente o que mais queremos é mostrar as coisas diferentes que estamos vendo, mesmo que seja só a caminho daquele restaurante baratinho do almoço.
A verdade é que o trabalho remoto pode acontecer desde que tenha um bom wi-fi, preferencialmente uma tomada e um laptop decente. E basicamente isso. Pode ser em cafés espalhados pelo mundo – exatamente como estou em um aqui em Chiang Mai agorinha, escrevendo esse post –, na praia, em um hotel, em um espaço de coworking ou qualquer coisa assim. Não faz diferença. Se a praia tiver um wi-fi bom e uma tomada – o que seria meio bizarro para uma praia – podemos estar trabalhando lá também. E essa é a beleza do trabalho remoto.
O quanto nós somos produtivos não está ligado ao lugar que estamos, mas com nossa própria concentração.
Trabalhar viajando é como estar de férias o tempo todo
Essa aqui eu até queria que fosse um pouquinho verdade mesmo. A real é que trabalhar enquanto você está viajando – ou morando em outros lugares – é completamente diferente de só estar de férias curtindo. Você precisa manter uma rotina, várias vezes vai ficar semanas em uma mesma cidade e não vai conhecer seus pontos turísticos, pode passar dias trancado dentro do hotel ou cafés super legais trabalhando e coisas assim. É claro que, ainda assim, você está em uma cidade nova, então vai ver coisas novas, visitar lugares diferentes de vez em quando, fazer novas amizades e coisas assim. Mas a realidade de quem trabalha viajando é bem mais pé no chão – e um pouco mais entediante – do que quem está só viajando. E essa é uma das grandes frustrações que vemos de gente que entra na vida nômade.
Nômades vivem como mochileiros
Não posso falar por todos os nômades – e, mesmo sabendo que alguns vivem assim, acredito que não seja a maioria – mas é muito difícil você passar semanas ou até meses se hospedando em hostel, dividindo quarto com outras pessoas, sem cozinhar e sem ter um espaço para você. A vida de um nômade digital pede uma certa estabilidade porque muitas vezes ele está realmente morando em um lugar e isso envolve manter vários dos seus hábitos: rotina de exercícios, alimentação saudável e principalmente os relacionados a trabalho.
As maiores semelhanças que consigo encontrar entre um mochileiro e um nômade são que ambos podem estar vivendo com uma mochila e ambos estão constantemente mudando de lugar – cada um com sua frequência. Claro que tem alguns que até são os dois, mas tá longe de ser a maioria.
Não dá pra se sustentar trabalhando viajando
Esse tipo de clichê costuma sair da boca de quem gostaria muito de viver essa realidade, mas tem tanto medo de agir que só inventa alguma coisa irreal pra esquecer disso. É o tipo de coisa que costumávamos ouvir muito mais frequentemente há uns 2 anos, quando a ideia do trabalho remoto ainda era bem abstrata, mas até hoje ainda tem muita gente mais tradicional que mantém esse pensamento.
A verdade é que sim, é óbvio que dá sim para você se sustentar trabalhando enquanto viaja. É exatamente o que nós fazemos e conhecemos centenas de outras pessoas que também fazem. Se você já trabalha remotamente e tem uma certa organização, o fator “viagem” não deve interferir na sua produtividade.
Se você não acredita nem em trabalho remoto, aquele que só é feito a distância, aí é outra história – e as pequenas empresas como a IBM, Dell, Apple, dentre tantas outras que vários profissionais trabalhando a distância, são só excessões, né? :P
A ideia de trabalhar viajando o mundo cresce todos os dias, mas ainda tem vários boatos por aí que precisamos reforçar todos os dias que estão errados. Além deles não acrescentarem em nada, ainda fazem um monte de pessoas desistirem antes mesmo de pensar sobre isso.
Leia também: Trabalhar viajando pode ser pra todo mundo?
Foi por isso que decidimos criar uma série no nosso Youtube chamada Escritório Remoto, para tirar todas as dúvidas que você tem de trabalho remoto. Assina lá o nosso canal! 😀