Existem alguns lugares nesse mundo que eu só pensava em visitar em um futuro muito, muito distante. Mesmo estando tão pertinho de tudo que eu já conheci, a Sérvia nunca foi um país que me chamava a atenção por qualquer motivo específico – e acho que a maioria dos brasileiros acaba mal sabendo onde o país fica por pura falta de informação sobre ele em português.
Quando a vida me levou até lá – ou “quando um trem me levou até esse país porque era barato e parecia ok” – assim que cheguei estava com os dois pés atrás. O trem era um daqueles bem estranhos, meio mal acabados, com pouca gente e poucos vagões e eu não sabia mesmo o que esperar chegando naquela estação de trem ainda mais estranha. Do pouco que sabia, nada parecia muito promissor: eles costumam misturar o nosso alfabeto com o alfabeto cirílico e, pelas minhas pesquisas, o Google Maps funcionava, mas não para você ver transporte público da cidade – que acontece todo em cirílico.
Por sorte, meu host do Airbnb se ofereceu para me dar uma carona da estação de trem em Belgrado até o apartamento, e esse foi o primeiro sinal de que aquele lugar poderia ter algo bacana escondidinho ali.
Esse meu host é um cara engraçado. Ele chegou lá com o carro super preparado para receber os cães, foi super divertido, deu um rolê por toda a cidade explicando parte da história e, depois que deixamos tudo no apartamento, deu uma volta no quarteirão comigo me apresentando para todos os vendedores das lojas, donos de restaurantes, do pet shop e dos bares que ele conhecia, avisando que eu moraria ali pelas próximas duas semanas.
Essa foi a minha primeira impressão da Sérvia – e dos sérvios, num geral. No caminho até o apartamento eu perdi a conta de quantos prédios destruídos ou abandonados eu vi. Pertinho da estação de trem ficam dois prédios bombardeados pela OTAN quase ontem, em 1999. E estão lá, destruídos, com os destroços no chão até hoje, passando essa sensação pesada de que, opa, rolou uma guerra por aqui e não faz tempo.
É um desconforto estranho que você carrega o tempo todo quando anda por Belgrado. Nós aprendemos na escola – um pouco, muito pouco – sobre as guerras no Leste Europeu, mas ver aquilo ali tão vivo e recente, enquanto as pessoas vivem normalmente ao redor dos destroços dá uma vivacidade aos livros de história que eu nunca senti antes.
Outra coisa comum que você vê de sobra em Belgrado é a quantidade de cafés, lojas de criadores locais, restaurantes e bares lindos, bem decorados e com cara de que saíram direto do Pinterest. Esses lugares normalmente se perdem entre os prédios detonados e as janelas quebradas, fazendo tudo ter um charme especial. E é assim que acontece em Belgrado: a cidade continua destruída em muitos cantos, o povo está longe de ser aberto e amável desde o primeiro contato, mas você se depara com surpresas novas em todos os quarteirões que passa.
Quando você menos esperar, esse charme do detonado – que pede pra fazer o melhor ~urban exploring~ possível – misturado com cantinhos lindos, charmosos e baratos já te conquistou e você nem sabe direito porque.
Belgrado é uma cidade que eu nunca esperei muito. Fui pra Sérvia porque era barato, conversei com meia dúzia de pessoas que me garantiram que eu iria adorar (e, confesso, eu duvidei) e de repente estava sonhando em viver ali, dentro de um daqueles apartamentos de pé direito duplo em qualquer prédio antigo, conhecendo cada um dos cantos que eu nunca esperei ver na capital da Sérvia.
Por que, de verdade, o que uma brasileira esperaria da Sérvia? Eu não sei direito o que estava na minha cabeça, mas fui surpreendida não uma ou duas vezes, mas pelo menos umas vinte. Foi por isso que eu fui até lá pra passar duas semanas, passei um mês e estou voltando.
Seja o parque enorme dentro da fortaleza – que você pode ver o sol nascer ou se pôr quando quiser, porque é aberto e gratuito –, as festas dentro das muralhas centenárias, os lugares lindos e baratos que você consegue conhecer gente o tempo todo, a quantidade de jovens estilosos e cheio de projetos únicos e incríveis que estão espalhados por todos os cantos de Belgrado, a vibe criativa que emana de uma cidade que já foi quase completamente destruída mas ainda está ali, pra provar que criatividade sempre surge no meio de crise, no meio do caos, no meio de qualquer dificuldade econômica ou histórica.
Belgrado me dá vontade de correr atrás dos meus projetos, me dá vontade de escrever, de experimentar coisas novasd e arte, de explorar prédios abandonados, fuçar em lojas de segunda mão e cair de amores pelo misto do broken com cool o tempo todo.
Por essas e por outras que eu volto pra lá em breve! :)