Logo que começou a esquentar em Berlim, lá pelo começo de Maio, começamos a ver bastante movimentação na praça em frente a nossa casa. Mães, pais, pessoas passeando com os cachorros, tomando sol, bebendo cerveja, tudo isso lá pelas…2 da tarde. Nossa primeira reação absolutamente paulistana foi: esse povo não trabalha?
Muitas pessoas que vivem em Berlim tem trabalhos alternativos, exatamente como nós, que não te obrigam a ficar das 8h às 17h no escritório, mas sempre que saíamos prestávamos a atenção em quantas pessoas estavam lá, curtindo a vida, bem no meio da tarde. E isso é bem incomum em São Paulo.
Conversamos com alguns alemães sobre isso e confirmaram nossa suspeita: o povo de Berlim está longe de ser workaholic. Muitas vezes, até brincam que as pessoas vão morar em Berlim para viver, não para trabalhar. Se querem trabalhar, vão morar em Frankfurt.
Ao contrário do que muita gente deve pensar sobre essa piadinha, não é que as pessoas que moram em Berlim são preguiçosas, hippies e não querem arranjar um emprego. A grande diferença é que os berlinenses querem trabalhar para viver, e não viver para trabalhar.
Só que essa história de trabalhar para viver já foi um conceito muito abstrato na minha vida.
Eu e o Fê trabalhamos em uma área que, ao menos em SP, costuma te considerar bem sucedido quando você trabalha demais (mesmo se você ganhar de menos). A publicidade enaltece as noites mal dormidas, valoriza cada pizza de madrugada na agência e, muitas vezes, só enxerga valor em quem chega cedo e sai tarde do trabalho. Inclusive, essa visão de trabalhar loucamente na agência até de madrugada sempre foi uma das coisas que mais faziam meus olhos brilharem para a publicidade. Me parecia tão glamuroso, tão cheio de obrigações e tão adulto!
O começo foi realmente incrível. Eu fazia questão de ficar trabalhando até mais tarde – e quando não queria, o trânsito me atrasava igual. Adorava chegar tarde na faculdade e me sentia muito importante quando dizia que foi por causa de um job. Eu não tinha nem 18 anos e já tinha esse nível de comprometimento. Que orgulho!
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Só que essa sensação foi sumindo. O orgulho começou a ser quando eu conseguia me concentrar e entregar tudo que precisava até às 19h, sobrar um tempo de dar um pulo no bar com um amigo e chegar em casa antes da meia noite para brincar com meus cachorros. O glamour era chegar na faculdade e conseguir conversar sem correr para o celular e terminar de mandar emails. Era conseguir reler parte da matéria do trimestre meia hora antes da prova. Eu comecei a me orgulhar muito mais quando conseguia equilibrar a vida profissional com a pessoal.
Quando precisava trabalhar até mais tarde, sem problemas, mas eu cansei de ver quem só ficava ali para “mostrar serviço”. Mesmo que o serviço pudesse ficar pronto no começo da tarde.
Um dia, já em Berlim, conversando com uma búlgara que trabalhava em agência, ela me contou sobre como ela fazia academia de manhã, cursos a noite, tinha tempo para passar o fim da tarde com as amigas e jantar com o namorado. Pensando em como isso seria quase impossível em São Paulo, comentei sobre essa ideia que nós temos de achar bonito trabalhar até mais tarde, contando sobre um dia comum de trabalho de boa parte da população e nossa visão disso.
A primeira reação dela foi de espanto, por não termos absolutamente nenhum tempo livre para viver pré ou pós trabalho. Batendo papo, ela me disse uma coisa que se encaixou totalmente no que eu vi acontecer muito: não é porque você trabalha até mais tarde todos os dias que produz mais, e às vezes é justamente o contrário.
Eu já trabalhei com muita gente que enrolava o expediente inteiro, passava de mesa em mesa fazendo piadas tentando tirar a atenção dos outros e só lá pelas 16h começava a se concentrar, reclamando sem parar das 19h às 23h sobre o quanto estava atrasado e o quanto de trabalho precisava terminar naquele dia. Isso é produzir mais?
Nesse tempo em Berlim, ouvimos várias histórias de gente que escolhe trabalhar menos horas por dia, ganhar menos e sair do trabalho às 16h. É claro que é importante ganhar dinheiro para se sustentar e ter uma vida legal, e muitas vezes isso pode exigir algumas noites sem dormir. Mas muita gente ali nunca quis ser um milionário trancado em um escritório 15h por dia e preferiu ganhar menos para curtir sua família, seus amigos e a cidade que vive – especialmente no verão.
Existem mil razões para se ficar até mais tarde no trabalho, muitas delas porque você está realmente sobrecarregado e precisa desse tempo extra. Mas todos os dias? Se orgulhar disso nas redes sociais? Realmente vale trocar parte sua vida, o jantar em casa ou o filme no fim da noite por mais horas extra no escritório? Trabalho não deveria ser baseado, principalmente, em get things done?
Depois que comecei a organizar meus horários e definir objetivos do dia, minha visão de trabalho mudou. É claro que às vezes eu procrastino por horas e jogo no lixo toda a minha organização – pra ser sincera, mais vezes do que eu deveria – mas sei que trabalhar além do esperado é o preço que pago por isso. Eu estou disposta a pagar, virar a noite e até dormir mal para entregar o melhor trabalho do mundo, mas não me permito mais ficar orgulhosa por não seguir o planejamento que eu mesma criei e usar o tempo que eu teria pra mim procrastinando igual uma tonta.
A visão de trabalhar demais e – quase como uma consequência instantânea na visão alheia – ser bem sucedido, não vem só da publicidade. Vem da nossa cultura num geral. E Berlim me mostrou que não é bem assim. Que não precisa ser bem assim. Que você pode trabalhar muito, entregar tudo, fazer mais do que precisa, ser perfeccionista, se dedicar de corpo e alma a alguma coisa e, ainda assim, ter tempo para se dedicar ao que você ama, que é a parte mais importante da vida. Trabalhar para viver.
O que você vai fazer com tanto dinheiro na conta e nenhum tempo livre na vida pessoal? Tem alguma coisa errada nessa balança.
Sempre leio os posts do blog, mas nunca comentei até agora. Essa veneração pelo estilo de vida workaholic é tão popular, valorizada e amplamente aceita que é meio difícil questionar o porquê disso logo que se entra na faculdade. Também adorava a sensação de encher a boca dizendo que estava trabalhando, fazendo trocentos créditos na universidade e virando noites pra cumprir as obrigações de ambos. Curiosamente, também mudei de ideia em relação à dimensão do trabalho depois de morar um tempo fora, mas foi difícil voltar e ver que todos os meus colegas designers continuavam com o mesmo mindset de antes -buscando fazer cada vez mais coisas, mais estágios, mais freelas, mais créditos- enquanto eu só queria ter mais clareza para fazer as coisas certas no tempo adequado.
Infelizmente, principalmente em carreiras criativas, há gente que muito se beneficia dessa ânsia em agradar os chefes e se sacrificar pelo trabalho sem a valorização adequada do mesmo, mas de pouco em pouco, acho que é possível apresentar outras alternativas pras pessoas queridas para que elas mesmas decidam o que é legitimamente melhor e viável para elas.
Obrigada pelo texto! :)
Mas isso é muito a visão do brasileiro não? Pesquisando sobre outro países para um trabalho da faculdade eu me deparei com essa mesma filosofia de "trabalhar para viver" enquanto aqui o povo "vive para trabalhar" se sentindo orgulhoso por ficar altas horas e ainda levar trabalho para casa, enchendo a boca para falar "não tenho tempo para isso, estou ocupado trabalhando." como se fosse muito bom alguém não ter tempo para coisas mais triviais da vida, mas que fazem uma puta diferença. Sei lá, eu partilho dessa filosofia de "trabalhar para viver", justamente por isso que estou na luta por ser financeiramente independente com a minha própria empresa e/ou site e não ser obrigada a ficar trancafiada em algum lugar de 9h até 18h e demorar mais 2h p chegar em casa… aarrgghh >_<
Maravilhoso texto!
Eu sempre me questiono sobre esse sistema de ser escravo do trabalho. Está tudo errado..
Tenho certeza que as pessoas aí são mais leves, felizes e amadas sabe? Os brasileiros não sabem valorizar as coisas certas e eu queria mesmo trabalhar pouco e viver essa vida :)
http://www.chadecalmila.com
Exatamente, Melissa! No último parágrafo eu até comento falando que é uma coisa cultural nossa, não só da publicidade, mas eu só consigo falar com propriedade da área que vivi (e vivo até hoje).
Acho que o equilíbrio entre trabalhar e conseguir aproveitar a vida faria muita gente ficar tão ansioso com o final de semana e detestar tanto o trabalho, o que até aumentaria a produtividade deles lá dentro. Mas é tão difícil mudar a nossa ideia de sucesso, né?
Nós que temos nossa própria empresa e trabalhamos de uma forma diferente do convencional cansamos de ouvir piadinhas desvalorizando nossa forma de trabalhar, e imagino que você também, mesmo que muitas vezes nós estejamos nos dedicando bem mais a ele do que a maioria. Pelo menos temos o poder de tentar equilibrar os nossos próprios pratos. :)
Um beijo e obrigada pelo comentário! :*
Eu acho que ter essa vontade logo que se entra na faculdade é porque você tá louco pra ser útil, fazer algo que mostre seu valor, não sei. E aí o pessoal das empresas abusa disso no início, mas se não fugimos da bolha acabamos com esse mindset para sempre, igual você comentou dos seus amigos e eu vejo pessoas da minha área até hoje.
Eu realmente acredito que tem como você ser uma pessoa incrível no que faz, trabalhar muito, se dedicar pra caramba e ainda ter tempo para viver a sua vida fora do expediente. Faz parte do que é "qualidade de vida" para cada um, né?
Obrigada pelo comentário e vê se comenta mais por aqui! Hahaha a gente fica tão feliz. <3
Beijos!
Realmente, temos muito a aprender com os europeus. Acho que essa cultura de viver para trabalhar não é só do brasileiro, mas também do norte-americano. Eu tenho buscado, cada vez mais dosar os compromissos profissionais com os pessoais, focar quando estou no trabalho para ter meus momentos de lazer todos os dias. E isso muda tremendamente a nossa qualidade de vida e mesmo o nosso relacionamento com as pessoas à nossa volta.
É o famoso "quanto você paga pelo que você ganha?".
Exato! Curti muito a frase.
É verdade, Rê, provavelmente essa ideia de trabalhar demais veio pra gente dos EUA. Mas acho que isso vem mudando. Quando viajamos por lá já tivemos um pouco dessa impressão em algumas cidades, e a tendência é só a se espalhar mais. Pelo menos com pessoas que estão dispostas a tal, né?
Eu acredito muito que se você consegue equilibrar vida pessoal e profissional durante a semana, não fica ansioso para o fim do dia/final de semana chegar, e quase por consequência não odeia tanto seu trabalho, porque é só uma parte do dia, não o dia todo. Já faz uma diferença gigante na produtividade!
Tocou na ferida lindamente! Eu já entrei nessa roda vida de agência de publicidade e sempre me questionei sobre isso. Estou me programando para morar fora do país e tentar uma experiência de trabalho nova, mas enquanto isso não acontece, estou tentando adaptar minha realidade. Primeiro passo que dei, há uns meses atrás, foi sair da agência e procurar uma empresa que tenha valores próximos aos meus. Posso dizer que minha vida mudou e que sou muito mais produtiva e feliz hoje.
Então, Debbie! conheço gente que já me deu outro ponto de vista. Diz que muitos escolhem ganhar menos para não caírem numa nova faixa de imposto do governo alemão. Dizem que ganhar bem perto do teto é mais interessante do que ganhar acima e ser obrigado a pagar mais impostos. Talvez isso influencie um pouco na decisão de "curtir mais a vida".
Pra quem tem salários maiores certeza que sim! É só mais um empurrãozinho, né? Eu nem ouvi falar nisso, mas provavelmente é porque Berlim é uma cidade com salários baixos em comparação com o resto da Alemanha. Provavelmente a preocupação de passar dessas faixas de impostos maiores ali é bem menor!
Mas eu curto muito essa visão mais humana de trabalho como sendo só parte da sua vida, não sua vida toda, que o alemão e qualquer europeu costuma acreditar e seguir. Acende um sinalzinho de "é possível!" na nossa cabeça.
Debbie Corrano ahh isso com certeza! A parte da procrastinação brasileira, então, nem se fala. Em muitos lugares as pessoas hoje fazem turnos hiper produtivos de 6h sem pausa para almoço, por exemplo, e depois já estão liberadas. Eu acho bem interessante.
Adorei o post Debbie! Eu e meu namorado também trabalhamos com publicidade, eita mercadinho danado mesmo. Temos conversado muito sobre se tudo isso vale mesmo a pena. Beijoadorooblog hehe
http://www.pardevaso.com
Aqui é super normal ser workaholic, conheço gente que se sente mal de sair na hora do trabalho, se a hora de sair é 17h só consegue sair lá pelas 17h30, sabe, isso é estranho! E brasileiro não está acostumado com essas coisas de trabalhar menos (mesmo com um salário semelhante) e ainda enxerga mal quem o faz, fui um dia na Pinacoteca aqui em São Paulo, e estava uma fila enorme, quando comentei com uma parente minha ela disse "é que Paulistano não trabalha!", e que ironia dizer isso apenas porque numa tarde de sexta tinha gente na Pinacoteca, isso porque aos olhos dela sexta a tarde é dia de estar obrigatoriamente no trabalho.
E falando de Alemanha, eu li um livro sobre a cultura alemã, e nele falava que muitas um vezes um alemão que fica depois do horário de trabalho é mal visto, porque ele não tem capacidade de terminar o trabalho dentro do "horário estipulado", não sei se funciona bem assim. Mas tenho um colega alemão e ele, claramente, trabalha para viver.
Preciso dizer que aprendi as mesmas coisas morando aqui há quase 3 anos. Sair de São Paulo foi uma das melhores coisas que já fiz.
GENTE! Obrigada por esse post, porque é o que eu digo e repito por aí. Trabalho numa agência também e chego no meu horário e saio no meu horário porque: a vida é só uma e a gente precisa viver. Quero malhar, ler meus livros, assistir um série com meu marido, ter tempo de fazer uma janta. E não dá pra fazer isso estando no escritório até 22h – principalmente, não há nenhuma necessidade disso.
Enfim, post maravilhoso, Debbie! <3
Vi isso nos ultimos 2 anos na Alemanha e outros paises por la. Esse e um grande motivo pq a economia europeia esta em crise a mais de 10 anos. Jovem querem trabalhar cada vez menos, isso esta causando um grande problema para economia. Berlin tem quase 30% de desemprego entre os jovens e uma economia que nao se sustenta. Tendo os estados da Baviera e Baden Wurtenberg que subsidiar os custos. Pergunte aos Bavaros oq eles acham da vida de Berlin. abs
Não sei que Brasil é esse que você está falando, nunca vi ninguém orgulhoso e feliz porque trabalha até mais tarde. A maioria faz isso porque precisa sobreviver, com os salários pagos no Brasil a luta é pela sobrevivência.
Muito bom o texto Debbie Corrano!
Em poucas palavras me lembra um velho ditado:
"Pra que tanto?
O que você quer?
Ser o cara mais rico do cemitério?"
De acordo c meus amigos alemaes (moro em Munique), so tem "artista e desempregado" em Berlin. Eles inclusivem acham q essa grande massa de gente "desocupada" faz c q seja ruim morar la e acaba abaixando a qualidade de vida. Mas o povo da Baviera tb "se acha", ne… So eles trabalham e ganham dinheiro na Alemanha, na opiniao deles. Moro em Munique ha 6 anos ja. Esquecem q ha 30 anos a Baviera era deficitaria e os outros estados a sustentavam.
Totalmente verdade!
É um dos maiores desafios que temos nos dias de hoje.
O texto somado há alguns comentários valeram toda a visita à página. Parabéns Debbie pela bela escrita e profissão.
Aproveito para acrescentar que, por ser uma questão cultural em nosso meio, pessoas que tentam ser diferentes e equilibrar mais os dois lados são vistas com "cara feia". Não é?
E gostaria de perguntar também como você conseguiu fazer um bom planejamento diário? Eu já tentei várias vezes e falhei em todas, não funcionou direito comigo.
Trabalhamos em áreas bem distintas, pelo que percebi. Você na publicidade e eu numa Instituição Financeira Cooperativa, "tipo um banco" como dizem.
Tenho que equilibrar meus afazeres diários com o atendimento ao associado no momento em que ele chega.
Alguma dica?
Oi Felipe!
Obrigada pelos elogios. :)
O que eu comecei a fazer para me planejar é bem simples.
Todo dia de manhã (ou na noite anterior) eu anoto todas as obrigações que eu tenho para o dia de acordo com o nível de importância. Eu tentei definir um tempo específico para cada uma, porque li que várias pessoas fazem isso, mas acabava me perdendo um pouco, então separo só na ordem de importância.
De manhã, quando normalmente não surgem tantas distrações, eu tento eliminar a tarefa mais importante do dia, e no resto do dia vou pegando as menores de acordo com importância (e mesclando as que eu gosto de fazer com as que eu preciso fazer, pra não ficar de saco cheio e jogar tudo para o alto).
O que eu faria no seu caso é anotar rapidinho o que você estava fazendo antes de atender o associado. Isso pelo menos ajuda a evitar que você sente de volta no computador e fique perdido até se concentrar de novo. Acho que é uma coisa bem pequena que já pode te levar de volta ao mindset do trabalho de novo!
É uma ótima dica Debbie!
Vou coloca-la em prática amanhã mesmo!
Muito obrigado e, DE NOVO, meus parabéns!
Fernanda, esse lance de não querer trabalhar mais pra não ter que pagar mais imposto existe, mas só pra quem faz minijob. Até 450 euros vc não paga imposto nenhum, acima disso, começa a pagar. Só que 450 euros não dá pra sobreviver em Berlim. Por exemplo, se vc trampa 6h por dia e ganha 450 e recebe uma "promoção" pra trampar 8h por dia e ganhar 600 não vale a pena realmente. Mas só uma parcela pequena da população está nessa faixa de salário. A maioria ganha entre 1200 e 3000 (a média de salário entre os berlinenses é de 3000 euros por família), e aí paga imposto de qualquer jeito, com uma diferença pequena nos valores. Então, esse lance de não querer trabalhar mais é sim cultural, e muito mais pra ter tempo e viver (principalmente no verão) do que uma questão econômica, falando em números gerais. O $$ influencia só os bem pobrinhos com subemprego (eu, no caso).
Muito oportuno ler esse post hoje. Vou te dizer que essa cultura workaholic não é só paulistana, nem é exclusiva da publicidade. Aqui no Rio é exatamente a mesma coisa, e eu até me arrisco a dizer que deve ser assim em boa parte do País, porque isso está entranhado em nossa cultura de trabalho. Quem trabalha muitas horas é bem visto, e quem sai no horário se sente culpado, como se estivesse fazendo algo errado. Eu decidi virar freela ano passado, e um dos motivos foi que eu estava cansada de deixar 45 horas da minha semana em uma empresa, sabendo que eu poderia fazer muito mais em menos tempo. Ainda estou me ajustando e aprendendo a planejar meu tempo, mas, hoje mesmo, depois de seis meses trabalhando loucamente, consegui almoçar no Forte de Copacabana, sozinha, de frente para o mar, sem ter que me preocupar com horários e compromissos, porque eu já tinha cumprido com as minhas obrigações. Eu sei que aproveito essa liberdade menos do que deveria, mas também sei que, hoje, eu de fato trabalho para viver, e não o contrário.
tem um documentário ótimo da bbc, make me a german, que explora exatamente este drama do ocidental (no caso, londrino) com os valores *mais socialistas* da alemanha. muito muito bom. explora inclusive a menor liberdade das mulheres alemãs, que são meio que obrigadas a cuidar muito da casa.
Motominha Makiyamica pelo que você diz é tipo São Paulo.
Aos cinquenta e oito anos, continuo acreditando que ter tempo para família, bichos e plantas é tão importante quanto ter um trabalho interessante. Digo isso, por que, nem sempre trabalhar é interessante, então é válido ocupar parte do tempo com outros afazeres mais lúdicos, família, por exemplo, mas, sem culpas. Trabalhamos muito, nem sempre somos remunerados pelo número de horas ou qualidade do que entregamos, então fica a frustração e o descontentamento, a vontade de mudar de emprego e recomeçar a ladainha. Achei excelente a matéria, embora, aqui, só seja aplicável a algumas categorias que já desenvolvem a filosofia de lazer consciente=produtividade, um dia, ela se espalhará a outras áreas, quem sabe?
Sensacional!
Debbie Corrano, você não imagina o quanto me ajudou com esse texto, há alguns anos estou preparando minha vida pra sair daqui e o meu destino é Berlim. Claro que atrapalha um frio na barriga, um medo de tudo, e cada vez mais eu sinto que é isso que devo fazer. Também sou publicitário e hoje tenho uma produtora de filmes, nem precisa falar a quantas anda o meu stress, né? Me identifiquei muito com o texto, pois essa história parece muito com a minha. Obrigado! Seu blog é excelente. Parabéns.