O paradoxo da diferentona

Começo esse texto já deixando claro que eu, quando adolescente, era meio exótica. Uma criança estranha me transformou em uma adolescente rebelde que gostava do que ninguém curtia, usava roupas diferentes de todo mundo, queria loucamente pintar o cabelo de várias cores e fazer bilhões de tatuagens – coisas que ainda me acompanham e, de certa maneira, se tornaram realidade.

É um passado meu que definiu perfeitamente quem sou hoje. E eu adoro relembrar essa fase. Amo ter gostado de bandas ~antes de todo mundo~, ir nos lugares podres ouvir músicas distorcidas e estranhas enquanto meus amiguinhos da escola iam para o shopping e, nunca, jamais, ter feito parte do grupo dos populares. É claro que isso só aconteceu porque eu nunca consegui me encaixar com as pessoas que viviam ao meu redor naquela época. Depois de vários anos tentando sem sucesso, bom, eu chutei o pau da barraca e decidi ser o que eu quisesse ser – isto é, o oposto de tudo aquilo que eu convivia diariamente.

[separator type=”thin”]Quem acompanha nosso mailing já ouviu falar da Debby, meu eu adolescente, meio revoltado, que odiava tudo que os outros gostavam. Assina aí nosso mailing pra não perder mais nada![separator type=”thin”]

Junto com essa questão de ser a diferentona do colégio de padres, eu levava comigo também uma definição muito forte sobre o que me manteria sendo especial: o fato de eu não gostar de nada que todo mundo gostava. E consigo enxergar hoje que isso já acontecia desde muito antes, quando eu era bem novinha.

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  • Enquanto todo mundo pirava por Britney Spears e aprendia suas coreografias, meu CD favorito que ficava no repeat era Família Lima. Eu tinha NOVE ANOS e pirava em Família Lima.
  • E o primeiro Harry Potter? Li e adorei. Mas de repente todo mundo andava com o livro embaixo do braço pela escola e PÉIN. Não gosto mais.
  • Todas as meninas adoravam ginástica olímpica? Eu fui jogar handball – depois de uma aula teste frustrante, é claro. Olha minha alegria nessa foto acima, ao lado da minha amiguinha toda feliz com roupinha de ginástica olímpica.
  • Ouvia Fresno quando eles tinham suas gravações horrorosas e desafinadas na garagem da casa deles? Lógico. Mas aí eles foram para a MTV e PÉIN. Não gosto mais.
  • Todo mundo começava a ficar com os meninos da escola e passavam a tarde no colégio? É claro que 1. ninguém queria ficar comigo e vice versa, mas 2. eu fui passar as tardes na lan house jogando Counter Strike e Tibia – e ainda arranjei um namoradinho por lá.
  • Todo mundo amava Backstreet Boys e N’sync? Eu não conseguia negar essa paixãozinha por uma boyband, mas fui escolher a mais diferentona de todas, WESTLIFE, pra dizer que era minha favorita. Só porque quase ninguém gostava. Poucos anos depois, minhas boybands favoritas eram The Used e Good Charlotte. Mas antes do hype, claro. :P

A minha vida toda eu fui absolutamente contra qualquer coisa que todo mundo gostava. Só pelo prazer de ser do contra. Do meu estilo de escrita, passando pelo jeito que me vestia, ideias de viagem, sonhos de futuro, livros e filmes favoritos, séries, tudo. Eu já era naturalmente a diferentona, só fui reforçando isso ao longo dos anos. Até hoje, a maioria das coisas que eu gosto ainda não são as mais populares do mundo. (é agora que você pode falar “uuuhhh, só você, diferentooona!”)

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Só que a gente cresce, muda, troca seu apelido de Debby para Debbie e começa a enxergar as coisas com menos rebeldia que nosso antigo “eu” adolescente. Quando eu era novinha, não dava nem chance para as coisas populares. Se todo mundo gostava, eu tinha certeza absoluta que iria detestar. Era prático: já detestava de cara e pronto, sem nem olhar. Fim de conversa.

Esse jeito levemente intolerante me trouxe, sim, muitas coisas boas. Muitas mesmo. Mas também foi assim que eu deixei de aproveitar bandas, livros, lugares, shows, histórias e até deixei de fazer novos amigos.

O tempo passou, eu decidi virar publicitária e, bom, eu precisava entender porque o popular era popular. Simples assim. E aí comecei a, ao menos, a olhar para o mesmo lado que as pessoas olhavam na rua. Vai que tem alguma coisa interessante ali, né? Mesmo que não gostasse, pelo menos eu dei uma chance e aprendi alguma coisa.

Foi assim que eu consegui me desgrudar da Debby e finalmente evoluir – ao ponto de até conseguir ir para Paris nesse ano e achar a cidade incrível mesmo, igual todo mundo acha. Também foi assim que descobri que a maioria das coisas que as pessoas adoram eu não vejo muita graça mesmo, mas ao menos eu dou uma chance. Porque não dói, né? Não preciso fechar os olhos e sair correndo do que não me interessa.

Nessas chances eu descobri o quanto me divirto ouvindo música pop, que posso misturar roupas da moda com o meu estilo e que ainda vai ficar legal, descobri que ir para uma rave com seus amigos até pode ser divertido de vez em quando – como nessa foto toda errada aqui de cima –, que Harry Potter e Star Wars são legais mesmo e até que, contrariando todas as expectativas, às vezes dá mesmo uma vontade louca de ir pra praia.

Abrindo minha cabeça, descobri que sair da zona de conforto sempre vai me surpreender positivamente. 

Pelo menos eu testei, eu vivi, eu experimentei. E não curti. Ou adorei. E a experiência que isso me trouxe só vai acrescentar na minha vida – não só na questão profissional, mas especialmente na minha evolução como pessoa.

Até hoje eu continuo com meu gosto pouco comum, porque isso cresceu comigo e é nele que me identifiquei a vida toda. Às vezes é um vestígio da Debby e às vezes é simplesmente porque não bateu. Eu gosto de descobrir o que ninguém conhece em viagens, cidades, músicas, filmes, livros e documentários. Acho que vocês já cansaram de ler sobre isso por aqui, né? Nem por isso eu preciso ignorar o que todo mundo ama e deixar de experimentar algo novo só por causa disso.

Porque, mesmo gostando de Paris e ouvindo pop quase todos os dias, eu ainda posso fazer tudo isso do meu jeito diferentona de ser. :P

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