Confesso que me senti uma criança no primeiro dia de aula em uma escola nova quando desci em Pai, uma cidadezinha no Norte da Tailândia. Depois de passar três horas sendo jogado de um lado pro outro na van, em uma estrada com tantas curvas a ponto de colocarem avisos de onde existem banheiros para vomitar, eu me minha mochila descemos ali, no meio da confusão do mercado de rua noturno.
Era minha primeira viagem sozinho. Quase 26 anos e muitos países nas costas, mas nunca tinha visitado uma cidade sem ninguém junto comigo. Aquele frio na barriga de não saber o que esperar. Será que vou conhecer outras pessoas? Não é estranho sair pra beber sozinho? Será que vou conseguir fazer alguma coisa sem a minha parceirinha de tantos anos de viagem? O que será que vou descobrir por aqui? Eu não sabia o que esperar, só sabia que estava perdido.
Por sorte, não demorei muito para aprender que é impossível se perder em Pai. Fui a pé da estação de ônibus até o hostel, passando por barraquinhas que vendiam todo tipo de comida, calças estampadas com elefantes e outras coisas de gente que vive das coisas que a natureza dá e bares cheios de gente bebendo álcool vagabundo em baldes cheios de gelo.
Descobri rapidinho que Pai é basicamente isso. Não tem nada pra ver além de um templo budista meia boca e umas paisagens incríveis em volta da cidade. Com seus nem três mil habitantes, é quase uma vila, cheia de casinhas de madeira. O que torna Pai atrativa de verdade é a ~vibe~. Uma vibe hippie que nunca vi em outro lugar que atrai uma porrada de gringos no começo dos seus 20 anos e cria quase que uma cidade sem lei. Prova disso são as ataduras do último acidente de moto de 80% das pessoas que andam pela cidade.
É gostoso ver como o tempo anda mais devagar por Pai. Minha semana se resumiu a passar o dia na piscina do hostel, conversando com gente do mundo todo, drinking games no começo da noite e bares até as 5 da manhã. Dia seguinte, repete todo o processo, mas com novas pessoas que chegaram na cidade. Conheci gente que passou só um dia em Pai e outros que se apaixonaram tanto que queriam ficar semanas ou meses por lá. Gente dos 17 aos 30 anos, da Argentina a Hungria. O espírito de Pai permite que você chegue em qualquer pessoa já perguntando de onde ela é.
O hostel em que fiquei, o Purple Monkey, reflete bem a cidade: sem infra-estrutura – sério, eu estava em um quarto privado você dava “descarga” na privada jogando água de um baldinho –, mas com uma boa chance de conhecer gente nova. A piscina e os drinking games ajudam. Não que eu precise de motivos para beber, mas aprendi uns cinco jogos diferentes com o objetivo de ficar bêbado, falar besteira e conhecer melhor quem está do seu lado.
Você vai conseguir aproveitar bem mais a cidade se aprender a andar de scooter. Pode aprender na hora até, é o que grande parte das pessoas faz. Confesso que não foi meu caso. Até peguei uma emprestada, mas, talvez de tanto ver e ouvir histórias de gente que caiu e ganhou umas cicatrizes pra vida, eu tenha ficado um pouco tenso. Mas, não vai na minha nóia e aprenda! Só dirigindo uma scooter você vai ter a liberdade pra conhecer os melhores e mais bonitos lugares da cidade – que ficam meio longe por sinal.
Um deles, é o Pai Canyon, famoso pelas vistas incríveis no pôr do sol. É um lugar realmente lindo, uma experiência que nunca tive antes. Inclusive porque andava por lá achando que ia cair do penhasco e morrer a qualquer hora. De qualquer forma, recomendo muito!
Fora isso, meus dias foram bem parecidos. Comia lá pelo hostel ou no ótimo Charlie And Lek, começava a beber na piscina, conhecia umas pessoas novas, jogava drinking games, passava pro Boom Bar, Yellow Sun ou pro charmoso PM Spirit e terminava no Don’t Cry, o único bar que fica aberto até mais tarde, com um monte de gente em volta das fogueiras.
Não me apaixonei por Pai como algumas outras pessoas de apaixonam. Talvez pelo meu momento, por estar trabalhando (como sempre) ou por ser um cara que gosta de cidades imensas. Mesmo assim, entendo o charme. Ela realmente tem uma coisa meio mágica, que te faz parar um pouco no tempo e só querer aproveitar a vida, sem se preocupar com nada. Quando visitar a Tailândia, passa uns dias lá e vem contar se você foi afetado por essa magia hippie ou não. :)